terça-feira, 24 de maio de 2011

#2 - Experiências de um recepcionista

Disclaymer: Tenho a unidade hoteleira em que trabalho na mais alta consideração e sinto-me acarinhado por todo o staff que é extremamente competente (principalmente a remediar os meus enganos).

Estas histórias da recepção são um retrato da realidade do meu dia a dia, mas obviamente "apimentados" pela minha imagniação deambulante.

Tudo isto para dizer: Na realidade nenhum cliente foi molestado seriamente durante a gravação do filme que estão prestes a ver:

PS:

Não me perguntem onde trabalho, e se souberem não divulguem.

Todos os nomes usados são falsos.

Isto tem piada porque é giro gozar com toscos (eu), não quero de forma alguma denegrir a unidade hoteleira ou o staff, cujo único erro foi empregar um novato e agora têm de viver com isso.


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2º Dia sozinho || Turno da manha (0800-1600)

-=Conhece-te a ti mesmo=-


Introdução: Neste momento sou tal e qual como uma formiga...enquanto estiver a andar no carreiro que me ensinaram, tudo vai bem, mas assim que me afasto 2 passinhos do caminho marcado começo a andar em círculos e a revirar as antenas e a espumar pela boca até alguém vir e levar-me pela mão de volta ao ponto zero.

O problema é que tenho pedras intransponíveis no carreiro de 2 em 2 metros.

Dito isto..:


Hoje comecei bem o dia, com uma encavadela que ia dando em pancadaria, logo ás 8:30.

Os clientes que estavam a fazer check-out cavaram logo a própria sepultura ao pedir para imprimir a factura em nome de uma empresa, repartida por 2 cartões multibanco diferentes, e com as contas do mini-bar e refeições apenas numa das contas. (estavam mesmo a pedi-las, diga-se!)

Vi logo que ia dar raia, mas tentei fazer o pedido... Nisto vejo que o custo do alojamento já tinha sido pago, ao que o cliente disse:

"-Não senhor, não pagámos nada ainda..."

Nem vos vou contar muitos detalhes, vou só resumir: Andorinha doida, fiz novo pagamento (mesmo tendo uma factura electrónica à frente que explicitamente me dizia para não o fazer) mas a dada altura fui atingido por um raio de lucidez e disse ao senhor que aquilo ia certamente dar buraco porque estava a ver no claramente no PC que que a conta estava paga desde o dia tantos do tantos de 2011. Até aqui até parece que estava a correr mais ou menos bem, não é?

Pois, mas entretanto já era tarde porque o meu balcão já parecia os Pirinéus, mas em vez de neve tinha facturas, umas 16 (sim, porque a porra da máquina imprime sempre duas e eu odeio isso =/).


Odeio isso porque cada papel que me chega à mão tem uns 50% de probabilidades de desaparecer irremediavelmente, logo, se a máquina do Visa (o P.O.S., dizem eles) só imprimísse um papel por cliente, eu conseguia prestar um serviço aceitável a metade dos clientes...como imprime 2 papéis por cliente, consigo com que PELO MENOS TODOS fiquem com um papel a menos.


E por falar em papéis, estava já enterrado neles, bem como em pedidos de desculpa aos clientes que suspiravam e olhavam para o relógio com desalento quando decidi que tinha de chamar a minha estimadíssima chefe para me vir salvar.

And she delivered! Abençoada seja.


Pensava que ia ter um dia da caca, com um começo como aquele... mas afinal nem por isso!

Mais tarde enquanto atendia o telefone apercebi-me que quando tiro apontamentos á pressa (nome do contacto, com quem quer falar, qual a empresa, etc) a minha caligrafia assemelha-se á de uma criança cega, analfabética e disléxica.

O que origina conversas do género:

Guerra: "Estou, senhor "João"? Tenho aqui ao telefone um Vi-Victor Dombu..Dombulu? Victor Dom qualquer coisa!"

Sr.Joao: "Victor Damásio?"

Guerra: "É capaz...pois..."


Solução: Começar a tirar notas no notebook do windows. Muito rápido, mais eficiente e mais legível (E ainda posso imprimir se quiser! WOW!)


E parecendo que não esta pequena a alteração não só contribuiu para aliviar a minha secretária de 26Kg de mini-papelinhos com hieroglifos indecifrágeis como para melhorar substancialmente a qualidade do meu atendimento telefónico.

Acho que já não se pode afirmar de animo leve que um macaco faria o mesmo serviço que eu.


Continuando o dia... uma vez mais olhei pessoas nos olhos e com postura sincera e sorriso confiante lhes fiz promessas que segundos depois vim a saber que nunca poderia cumprir.

Nomeadamente, 3 clientes seguidos que vieram expor problemas técnicos no quarto (chuveiro avariado, televisão inop, janela encravada, etc) e assim que atendi o último (garantindo que o problema ia ser resolvido em minutos) recebo a notícia de que o técnico da manutenção ia faltar.

Calculo que neste momento o pobre senhor francês do #1405 esteja a regressar ao hotel, vindo de um abastado jantar na baixa Lisboeta, e a encontrar a sanita entupida, tal como a deixou ás 10h da manha.


Ja mais perto da hora de saír, lancei-me na aventura de tentar fazer uma reserva de 3 dias cuja tarifa alterava no ultimo dia... e consegui! Durante o quarto de hora de almoço, a meio de duas garfadas de lasanha congelada, pedi que me explicassem "a olho" como é que se fazia esse processo no computador e quando tentei sozinho, consegui!

Quer dizer, consegui depois de ter tentado umas 6 vezes fazer o débito através do P.O.S. e receber o maldito "Erro 101" (ou 100 ou 110 ou lá o que é) mas lá me explicaram que a máquina tava marada e fiquei mais aliviado. Após reboot da máquinazinha, lá consegui.

Feliz.


Mesmo quase a saír chegou a altura de fechar "a caixa". Ainda ia a meio das contas e já lá estavam 80€ a mais.

O colega que me vinha substituir e que assistia com visível satisfação à minha agonia, começou a chamar-me "Galinha dos ovos de Ouro" e avisou-me que se continuasse assim, o director geral me mandava fechar num cofre com uma caixa registadora e que eu nunca mais via a luz do sol.

Afinal, contas feitas e estava tudo bem. Surgiu lá "dinheiro mágico" mas não em quantidade que justificasse o meu encarceramento.


Saí, semi-contente por ter deixado pouca coisa para os outros resolverem e por ter agradado a pelo menos 2 clientes, cujas gorjetas ascenderam acima dos 1,24€.


Por Guerra, o Corrécio

#1 - Experiências de um Recepcionista

Disclaymer: Tenho a unidade hoteleira em que trabalho na mais alta consideração e sinto-me acarinhado por todo o staff que é extremamente competente (principalmente a remediar os meus enganos).

Estas histórias da recepção são um retrato da realidade do meu dia a dia, mas obviamente "apimentados" pela minha imagniação deambulante.

Tudo isto para dizer: Na realidade nenhum cliente foi molestado seriamente durante a gravação do filme que estão prestes a ver:

PS:

Não me perguntem onde trabalho, e se souberem não divulguem.

Todos os nomes usados são falsos.

Isto tem piada porque é giro gozar com toscos (eu), não quero de forma alguma denegrir a unidade hoteleira ou o staff, cujo único erro foi empregar um novato e agora têm de viver com isso.


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1º Dia sozinho || Turno da manha (0800-16000)

-=Empregado do mês... la pra 2012=-


Hoje perguntaram-me se o trabalho tinha corrido bem. Eu, claro, disse que sim... mas depois fiquei a pensar... Ora:


1 - O meu management do staff de quartos foi de tal forma eficiente que fiz com que tentassem meter uma cama extra no quarto single mais pequeno do hotel (com tanto quarto que eu podia ter escolhido...)

Nota: E afinal nem era precisa uma extra bed...duplo erro meu.


2 - Da primeira vez que consigo fazer uma transacção eficiente com um VISA (demorei menos de 20minutos) entrego a factura ao cliente com despesas a mais (POR ACASO não da minha responsabilidade)... tento resolver o problema mas tinham-me dado o PIN errado do cartão "mestre".

Quando finalmente, pela 3ª vez o cliente e eu tentámos resolver o problema, já com o PIN certo, tinham fechado a conta do P.O.S. ha 2 minutos e não havia dinheiro em cache pa devolver ao homem...uns míseros 2,22€ que o desgraçado ha-de receber daqui a 1mês. (tenho a certeza que ainda me vou atormentar mais tarde a resolver este assunto).


3- Também por erro alheio, meti 2 velhas num quarto que devia estar bloqueado para manutenção (tinha uma porta do armário mandada abaixo)... logo por sorte eram 2 senhoras (até simpáticas) mas que se queixaram logo que não queriam edredons, queriam almofadas mais baixas e vista para a rua...obviamente que quando viram o armário rebentado, pediram pa trocar de quarto.

Não seria complicado se eu não fosse um passarinho e me enrolasse todo co programa informático do hotel... desgraçadas das velhas nem sei onde estão agora. Descansem em paz, supostamente no #402, mas tanto quanto sei podem estar desalojadas no elevador ou a dormir na arrecadação.


4- Ao fechar a caixa dos eurions, como tenho de fazer no final do turno, constato que estão lá 100€ a mais. Foi a fada dentinho? Não faço ideia... mas os dentes vou perde-los amanha de manha quando o desgraçado que faz as noites (e a contabilidade) me apanhar...

Nota: Dinheiro a mais ou a menos na caixa, é igualmente muito mau sinal.


5- Tive que lidar com uma série de situações chatas, as quais é melhor manter confidenciais.


6- Ensinei 1 alemão que não percebia inglês a chegar a um sítio onde eu nunca tinha ido, nunca tinha ouvido falar e não sabia onde era.


7- Prometi uma série de coisas a vários clientes, só para ter o desgosto de mais tarde dizer que ainda não tinha conseguido resolver o assunto.


8- Disse 3 vezes à empresa que nos vende o pão que não tinha um certo papel, quando estava a usar esse papel como base para o rato desde as 11 da manha...


9- Em 8 horas de trabalho acumulei 18 horas de serviço para os desgraçados que entraram depois de mim resolver (Pedro, quando eu for capaz, ofereço-te 1 folga!)


10 - Das praí 35 reservas que me chegaram (via telefone, mail, fax...) consegui haviar uma...


11- Aprendi por autoria própria a contar até 10 em Alemão! Foi uma coisa boa!


...Ah, mas isso foi ontem... hoje não houve mesmo nada bom =(

Acho que isto resume, em parte o meu dia.


Por Guerra, o Corrécio